Bratislava entrevista: JULIA BAC

Holga fala sobre a importância de fazermos registros das coisas que vivemos, seja uma viagem, um acontecimento, um show ou, simplesmente, o nosso dia-a-dia. Pra ampliar a discussão, a banda preparou uma série de entrevistas com pessoas que registram a vida de diferentes maneiras.


Julia Bac é autora da obra Os Dias, que será lançada no dia 6 de julho. A obra é uma série de pequenas anotações com gostinho de poesia, inspiradas pelos primeiros dias de sua experiência na Holanda, onde fez mestrado em Arte e Patrimônio. Os textos contam os preparos para a viagem, a vivência na cidade de Maastricht, o medo do inverno, a experiência do rompimento de um longo relacionamento, as viagens para outros países, novas amizades e a mudança para Amsterdã.

Bratislava – Por que registrar? Qual é a importância desse exercício pra você?

JULIA – Mais que registrar, primeiro eu descobri o gosto pela escrita. Eu ainda não sabia que estava registrando algo. Quando eu era pequena, acho que eu tinha uns 10 anos, a minha tia me deu um diário e disse que seria bacana eu ler quando fosse mais velha. Ela sempre me mostrava fotos antigas da minha família e eu adorava ver isso tudo... Depois descobri que o diário que ela me deu não foi o meu primeiro, mas mesmo assim foi um momento que eu lembro e gosto bastante de lembrar, porque é o momento em que, na minha memória, eu comecei a escrever.

Bratislava – O que te moveu a escrever e registrar os momentos? O que te inspira? O que faz com que você tenha vontade de escrever?

JULIA – Pois é, escrever faz parte do meu dia. Às vezes eu estou sentada no ônibus e escuto alguém falando uma palavra que parece interessante, aí começo a escrever alguma coisa. Mas nesse momento ainda escrevo “mentalmente”. Por isso gosto de carregar um caderninho sempre comigo, porque preciso colocar rápido no papel. Mas eu acho que o que me motiva a escrever é gostar de contar histórias. Por isso, fico atenta às pequenas coisinhas que acontecem ao meu redor: um montinho de poeira voando e entrando pela janela de um carro, o movimento das folhas ainda presas às árvores, a luz laranja do pôr do sol projetando a sombra de um objeto na parede... todas essas coisas são tão bonitas que me dão vontade de escrever!

Bratislava – Por que escolheu a escrita como meio de registrar esses momentos? Você acha que acessá-los depois de um tempo sem os ler será como folhear um álbum de fotos antigas suas?

JULIA – Ler o que escrevi tempos atrás me faz sentir-me muito mais calma. Eu adoro ler meus diários e ver que o que na época parecia ter uma importância imensa, mas depois acaba se esvoaçando pelo ar e eu nem lembro mais. Outros momentos que eu guardo na escrita são lindos e me dão vontade de ler e reler muitas e muitas vezes, principalmente os dias de quando eu estou viajando e vejo um lugar que eu só conhecia nos livros de história.

Bratislava – Por fim, o que iremos encontrar na leitura do seu livro “Os Dias”? Conta um pouco sobre ele.

JULIA – Na verdade, quem me estimulou a organizar esse livro foi um amigo. Ele disse que tinha lido meu blog e achava que eu tinha um material bacana. Aí fiquei com vontade mesmo de organizar um livro. Mas, como posto meus textos no blog desde 2009, achei que seria interessante escolher os textos do período em que preparei a viagem para a Holanda e dos primeiros anos em que morei lá, até o ano passado, que foi a minha primeira vinda ao Brasil. Acho que é um livro muito pessoal, mas que, ao mesmo tempo, outras pessoas podem se identificar com ele. Pelo menos é isso que eu procuro nos livros que escolho para ler.